terça-feira, 20 de outubro de 2015

CONHECE-TE A TI MESMO,(SOCRATES).

Dicas importantes para aqueles que querem conhecer mais sobre a técnica psicanalítica.

O processo de análise (assim se denomina a psicanálise clínica) consiste em relatos que o analisado faz ao seu analista durante as sessões. O conteúdo desse relato é diverso: o analisando fala a respeito de seus sentimentos, acontecimentos de sua vida cotidiana, de seu passado, de seus sonhos. Quando o analisando fala ao analista, ele tem a oportunidade de ouvir a si próprio, de tomar consciência de várias de suas motivações e frustrações e de elaborar melhor seus sentimentos. E assim vai se percebendo, tomando consciência de si, livrando-se de comportamentos que lhe causam sofrimentos e se equilibrando. Ao psicanalista cabe conduzir esse processo, fazendo as interpretações e intervenções necessárias, apoiando-se sempre na teoria e técnica psicanalíticas.
(parte do texto indicado no site abaixo).

https://www.dino.com.br/releases/os-beneficios-da-psicanalise-para-o-equilibrio-emocional-dino89033970131

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Evitar os Fardos

A leveza seria o amor que se consegue deixando o ódio, peso morto, para trás. Alcançar essa condição parece, no entanto, uma verdadeira façanha psíquica. Quem conseguiria? Haveria um método para esquecer e, assim, poder, novamente, contra o peso do ressentimento, amar?


Da Revista Cult
O peso mais pesado – ódio e meios de produção do ressentimento
Por Marcia Tiburi
Nietzsche escreveu sobre sua famosa teoria do eterno retorno em um parágrafo de “A Gaia Ciência” intitulado “O peso mais pesado”. Trata-se, no caso dessa doutrina de caráter amplamente psicológico, do peso do ressentimento, daquilo que não se pode esquecer. Do afeto que, denso e pesaroso, de algum modo é preciso carregar por toda a vida.
Cada pessoa tem alguma dor, ou talvez várias dores que são, no sentido do que a psicanálise chama de trauma, constitutivas de sua condição subjetiva. Mas o modo como cada um experimenta o que podemos chamar de ferida pessoal – como a ferida que Ivan Illitch no conto de Tolstói experimenta em silêncio e solitariamente – depende de muitos fatores. Verdade que o sofrimento não pode ser mensurado, porém, quando narrado por alguém, percebemos que o sofrimento assume intensidades diversas.
A intensidade do sofrimento é constantemente expressa pelo seu “peso”. Assim no texto de Nietzsche. Por isso, a pergunta implicada na doutrina do eterno retorno de Nietzsche, tal como exposta naquele parágrafo, diz respeito ao motivo de se carregar o peso que se carrega. Em outras palavras, está em jogo, na questão de Nietzsche, o motivo pelo qual um sofrimento não pode ser superado, por que há certo sofrimento que parece pesar mais. Ora, um sofrimento indelével é sempre um sofrimento muito poderoso. Seu poder vem de seu peso. O mais pesado de todos os pesos é um peso maior, quem sabe o mais valioso, o mais poderoso. Ao mesmo tempo, sendo “peso”, incomoda. por isso, é difícil carregá-lo. O que fazemos, então, com aquilo que nos pesa, já que ninguém deve querer, voluntariamente, carregar um peso? Justamente por isso, por ser difícil carregar o peso, é que cada um tende a jogá-lo em algum lugar. Podemos dizer que, no esforço de livrarmo-nos dele, tendemos a jogá-lo na direção de outro. Isso significa em termos “psicológicos”, projetá-lo na direção de outro.
Ao mesmo tempo, não é porque as coisas pesem que precisamos carregá-las, mas porque as carregamos é que elas nos pesam. Ora, o que pesa é o que não pode ser solto, o que não pode ser deixado para trás. Isso fica melhor compreendido quando Nietzsche em “Assim Falou Zaratustra” usa um morto como metáfora do peso que se carrega. O ressentimento, nesse caso, pode ser o sentir ininterrupto da dor que um dia se sentiu, é como o morto que Zaratustra tem às costas. Ele desapareceria se tivéssemos a capacidade de esquecer o que foi negativamente sentido e, a partir de então, aprendêssemos a aceitar o que nos aconteceu, o que sentimos, a não negar, portanto, o que sentimos. Isso seria o que Nietzsche chamou de “Amor Fati”, o “amor ao destino”. Amor, de algum modo, ao que se é, ao que se tem, ao que nos acontece. Esquecer, diante do ressentimento, seria uma espécie de virtude própria de quem vive o amor ao destino. Seria, no caso do confronto com o que se viveu em termos de peso, um ato de incentivo à leveza que se alcançaria com o amor. A leveza, contrária ao peso, seria, neste caso, uma força. Seria como deixar ir, como deixar passar.
A leveza seria o amor que se consegue deixando o ódio, peso morto, para trás. Alcançar essa condição parece, no entanto, uma verdadeira façanha psíquica. Quem conseguiria? Haveria um método para esquecer e, assim, poder, novamente, contra o peso do ressentimento, amar?

Amar o destino seria, antes de mais nada, um ato de desapego. Seria o ato de aceitação do peso das coisas, não de sua negação abstrata. Essa aceitação permitiria deixar as coisas no meio do caminho, abandoná-las a si mesmas e, por meio desse abandono (totalmente dialético), devolvê-las a si mesmas. À história, ao tempo, ao espaço. Neste caso, experimentaríamos o sofrimento, a dor, os afetos do amor – e também do ódio -, mas no momento em que se apresentariam como parte da vida e não como peso morto. Isso quer dizer que a doutrina do “Amor Fati” seria a doutrina da aceitação dos afetos. Quando seria evidente que não sentir é impossível, mas re-sentir pode ser melhor elaborado na direção de um afeto futuro, não ressentido. De um afeto aberto ao futuro.
O amor é esse afeto aberto ao futuro. O ódio é o afeto fechado para o futuro.
O “amor ao destino” implicaria abandonar o peso morto do ressentimento no meio do caminho. Seria, portanto, um ato que relativizaria o peso. Deixar o peso do passado ao passado seria como devolver-lhe, generosamente ao seu lugar, renovando, assim, o lugar do futuro.
Nietzsche usou o peso como uma metáfora negativa aplicada à afetividade. Mas como os óculos dialéticos melhoram nossa visão, devemos ver que peso e leveza são medidas de valor. Do mesmo modo como podemos dizer “peso pesado” ou “peso leve” para a força do lutador, do desportista profissional, o peso é sempre uma medida que implica o “maior” ou “menor”. Implica um valor maior ou menor e um peso – ou um preço – a ser pago quando se trata de alguma balança.
Em uma sociedade em que miséria e riqueza se confundem no mercado e na igreja, o poder do miserável está no sofrimento acumulado. O poder do opressor na produção desse peso. O mesmo que não permite que se mude o rumo da história. Sabemos que o maior ressentido é o dono do maior sofrimento, um sofrimento que ele pensa ser maior do que o dos outros quando visto de seu próprio ponto de vista. É o ressentimento que se expressa no discurso da vítima. Mas é também, e muito mais, o ressentimento que culpabiliza o outro por ser vítima. O ressentimento de quem é incapaz de ver o sentimento alheio, de fantasiar, pelo menos, o outro, de suspeitar de sua dor.
Maior ainda é o ressentido que administra o ressentimento alheio. O ressentimento do dono dos meios de produção do ressentimento. Os meios de comunicação, as igrejas, as empresas, os Estados, os regimes políticos e econômicos criam esse ressentimento criando o eterno retorno da dor.
Cada um, neste contexto, se torna, a seu modo, o mais poderoso dentre os miseráveis.
O ressentimento esconde o ódio e é a origem do fascismo que “pesa” sobre nossa cultura atual. No gesto de todo fascista – seja o homofóbico, o machista, o racista, o que defende a desigualdade de classes, ou a “natureza” superior de uns contra outros, no capitalista que diz que as coisas não podem ser diferentes – está o ressentimento, sinônimo de ódio, marca da impossibilidade de ir além de si mesmo, de produzir um mundo melhor para todos.
O ódio é fechado e triste, o mais pesado de todos os pesos. Ele é a base do fascismo.
O ressentimento é seu nome complexo. O seu contrário implica a amorosa e esbanjadora festa da liberdade na contramão do espírito de morte que é o espírito avarento do sistema econômico chamado capitalismo.
Que o ódio esteja chamando a atenção entre nós, gerando o cenário antipolítico que conhecemos, é um sinal de que podemos superá-lo. É sinal de que ainda existe amor como afeto amplamente político, como potência contra o ressentimento, contra o ódio requentado a cada dia, com seu miasma sempre pronto a sufocar qualquer um que esteja vivo.
A democracia é a luta amorosa contra esse fogo fraco e impotente que ameaça incendiar o mundo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Quando procurar um psicanalista?

"Quando alguém questiona seu sintoma e deseja confrontar-se com a verdade, trocando seu sofrimento pelo saber do seu desejo, a psicanálise é o caminho" É desse assunto que o texto abaixo, esclarece.





Uma psicanálise é uma situação de escuta, que denominamos inconsciente, quando a fala de um repercute naquele que fala e no que ouve, numa relação entre dois, intermediada pela palavra em sua dimensão simbólica. Nesse contexto se rememora algo que não é lembrado de outra maneira. (Medeiros, Paulo. 2002)
Alguém procura uma psicanálise quando está vivendo uma situação dolorosa de conflitos, de medos, ou qualquer sintoma que o incomoda, sente que tem algo que não anda, tem dúvidas e não encontra saídas diante disso.
Sigmund Freud, criador da psicanálise, ao escrever Die Traudeutung, traduzido para o português como A Interpretação de Sonhos, criou a teoria do processo de leitura do texto inconsciente inscrito no sujeito. Mostrou o sonho como um dos principais caminhos nos quais se expressa o inconsciente. Mas o inconsciente se manifesta também em outras formações, como os lapsos, os atos falhos, os chistes, etc., devendo o psicanalista estar atento a todas elas na sua escuta para ajudar o analisante, aquele que busca a análise, a encontrar as verdades que estas formações revelam.
Na psicanálise o analisante ordena sua fala ao descrever sua relação com um não-saber sobre seu desejo, camuflado desde para si próprio. É o analisante quem fala. Há um dizer que advém de um Outro lugar, inconsciente, demandando a intermediação de um semelhante, um outro, o psicanalista, pois impossível auto-análise. Por isso um psicanalista é procurado como sendo alguém suposto sabedor daquilo ainda a ser dito pelo sujeito, como se este saber estivesse em outro lugar, em outro mundo. Demanda-se dele um saber a decifrar o desejo oculto carregado pelo sujeito. Consequentemente, tem sido a Psicanálise denominada de ciência do desejo, sendo, no entanto, sua ciência aliar-se à arte de indicar ser o desejo do sujeito proveniente desse Outro enquanto lugar de inscrições enigmáticas a serem decifradas na fala, como um texto a ser lido num outro sistema linguageiro (Medeiros, Paulo, 2002).
Esse desejo, digamos, primevo, instalado a partir de uma falta estruturante do sujeito, passou por um recalque original. Trata-se de um desejo interditado, e é essa interdição que faz o sujeito não saber sobre ele. Contudo, mesmo sendo um desejo recalcado, inconsciente, pode haver um retorno do recalcado. Ele aparece camuflado, na falha do recalque, donde se origina o sintoma para a psicanálise. Somos sujeitos falhados, tal qual o rei Édipo da tragédia grega de Sófocles. Freud usou desse mito para ilustrar o nosso não-saber do desejo, pois a essência desse mito para a psicanálise é o não-saber. O sintoma pode se tornar doloroso, insuportável. Nessa situação, principalmente, que o analisante procura alguém que saiba, um Sujeito a que se supõe Saber responder ao enigma do seu sintoma, do seu sofrimento.
Quando alguém questiona seu sintoma e deseja confrontar-se com a verdade, trocando seu sofrimento pelo saber do seu desejo, a psicanálise é o caminho.
Cada pessoa tem seu tempo próprio nesse percurso. Se o analista tiver pressa para “curar” o analisante, num furor curandis como dizia Freud, vai produzir um saber no mesmo sem chegar à sua verdade, deslocando o sintoma. O processo da psicanálise é contínuo, e seu tempo vai depender do subjetivo de quem se dispõe a se analisar.
No campo do psiquismo não falamos em diagnóstico, conseqüentemente, também não falamos em cura no sentido médico. Lacan fala em tratamento, palavra que vem do latim e quer dizer lidar, administrar. Ao longo da história da psicanálise Freud afastou-se do modelo médico, pôs-se a guiar o tratamento pela escuta do inconsciente e a deixar sua pressa em concluir a análise que conduzia.
É interessante observar que a psicanálise não trabalha com uma definição médica de normalidade. Para isso ela trabalharia com padrões, modelos de comportamento. Não. A psicanálise trabalha com a singularidade de cada um, respeitando o seu desejo, não sendo seu objetivo “ajustá-lo” a um modelo de comportamento. Se do outro modo fosse, seria uma terapia corretiva, como se houvesse um modo bom para aquele sujeito agir, e o analista soubesse qual é o bem para o analisante, fazendo-lhe aconselhamentos. Ora, o que é o bem de alguém? O que é bem para mim pode não ser bem para outro. Podemos querer bem uma pessoa, mas será que sabemos qual é o bem para ela? Por querer o bem do outro, muita mal já se produziu. Nesse sentido, a psicanálise não classifica o sujeito nem tenta adaptá-lo à sociedade segundo um modelo, não faz aconselhamentos. Por isso a ética da psicanálise é a ética do desejo. O desejo do analista é o desejo de que, com a fala do analisante, advenha ali o saber sobre seu desejo, sempre singular, não censurado. Aí a importância do analista ter realizado e concluído sua análise pessoal,condição fundamental na sua formação, sem a qual ele se imiscuiria na relação imaginária com o analisante, confundindo sua escuta.
Por outro lado, vivemos numa sociedade em que, cada dia mais, a indústria farmacêutica coloca no mercado medicamentos que prometem eliminar os sintomas mais dolorosos do sofrimento psíquico, a unificar comportamentos. Porém, os medicamentos não dão significação aos sintomas. Não se vai à origem da dor psíquica. Qual sentido ela tem? O que não quer dizer que alguém não precise nunca recorrer a eles. Quero dizer que tristezas, lutos, desilusões não são doenças que precisam ser tratadas pela bioquímica. Fazem parte da condição humana, da qual não podemos ser curados, a não ser nos despojando do que nos é próprio. Não podemos ser curados da nossa condição humana, mas podemos aprender a lidar com isso. E quando estiver difícil conviver com a dor resultante de conflitos interiores, a procura por uma análise é indicada, justamente para ordenar o dizer sobre essa e outras dores que estão camufladas, porque articuladas com o desejo.
Jacques Lacan especifica bem a psicanálise, diferenciando-a da terapia. A terapia pretende um retorno a um suposto estado de bem estar. A cultura, condição que nos diferenciou daqueles que vivem no estado da natureza, produziu o mal estar na civilização, que é sua própria condição de existir, advinda da lei da proibição do incesto, o que, conseqüentemente, nos permitiu a linguagem, permitiu sermos humanos. Entretanto, se análise não é terapia, e não é, pois não se pode curar a própria condição da cultura, a de estarmos submetidos a tal lei, sabemos, com Lacan, que uma análise pode ter valor terapêutico. Dizemos que se pode sair da análise sem o sofrimento com o qual a pessoa se queixava inicialmente, ao custo de uma mudança, saímos outros, diferentes.

Texto retirado da declaração da psicanalista,
Teodora de Barros é psicanalista, foi Analista Membro de Escola do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise, em Recife, PE, onde fez sua principal formação. Clinicou em Recife por 15 anos, e atualmente fixou residência em Rondonópolis, MT, onde atende à Av. Joaquim de Oliveira, 1769, fone 66-84403020. Coordena também grupo de estudos de Freud.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Psicanálise e pesquisa social de hermenêutica profunda



 Um bom estudos para todos!

O ponto de partida do artigo é a crítica de Theodor W. Adorno à psicanálise. Nem Freud teria reconhecido bem as complexas mediações entre indivíduo e sociedade, referenciando-se de maneira unilateral demais ao indivíduo, em suas análises de crítica cultural. O campo central de investigação da psicanálise é o inconsciente, conceito que a psicologia e as ciências sociais sempre voltam a discutir, e de modo controverso. Será que existe mesmo um fenômeno como o inconsciente? Será que ele se deixa, afinal, apreender conceitualmente? Quando, como Freud, se consegue conceber como pesquisa científica as muitas milhares de psicanálises já realizadas e que se realizam como terapias individuais, aí o fenômeno do inconsciente existe, para além de qualquer conceituação positivista que o descarte. Adorno, entretanto, acrescenta com razão que, em contraposição à opinião pedagógica dominante da psicanálise, não se trata apenas de um fenômeno individual, e sim, ao mesmo tempo, um fenômeno social geral. Essa concepção crítica do inconsciente foi retomada particularmente em termos metodológicos pelo psicanalista frankfurtiano Alfred Lorenzer. No campo social não clínico, ele desenvolveu a psicanálise da hermenêutica em profundidade como método de investigação para as ciências sociais e culturais. Neste artigo, apresenta-se a hermenêutica em profundidade em sua relação com a psicanálise. A última seção oferece um exemplo de interpretação hermenêutica em profundidade de processos sociais. A interpretação busca apreender o problema da violência e da solidariedade em gangues juvenis. Trata-se de compreender formas definidas de interação cujas fontes, embora se encontrem na primeira infância, não deixam, simultaneamente, de determinar de modo bem concreto as ações do presente.

O texto por inteiro no site, abaixo!

http://www.revista.ufpe.br/revsocio/index.php/revista/article/view/438