Conto:
O domingo e a tristeza
Autora: Rita Castro
O domingo para muitas pessoas
é desolador, feio, angustiante, triste, depressivo e tantos outros adjetivos,
que escreveria um texto inteirinho sobre eles.
Mas, aqui, quero trazer a
história de uma mulher que analise sua curva de vida. Ela faz um relato dos
seus domingos. E traça um paralelo dos domingos vividos em sua infância e de
tantos,outros, vividos por ela.
Maria, uma menina que sonhava
com uma família linda e sempre tentou se inspirar em outras, para fazer de
conta que a sua também tinha traços daquelas observadas por ela como
perfeita.
Em seu mundo, infantil, os
domingos, também, foram para ela como para a maioria das pessoas, citadas no início
do texto. Quando muito criança ela não entendia, quase nada. Mas sentia FALTAR
algo, algo que não sabia onde buscar. Quando cresceu descobriu e presenciou
umas faltas que até então não entendia. E essa descoberta lhe trouxe tormento
para os seus domingos, apavoradores.
No domingo da sua infância
observara, entre seus pais, brigas, reclamações e muita tristeza. No domingo,
de vida adulta, sem perceber aqueles sintomas chegavam em seu ser de sobressaltos,
e ela revivia, quase todos os seus domingos, com aqueles mesmos sentimentos e
lembranças infantis, tristeza, brigas e solidão.
No seu domingo, infantil, a
sua mãe chorava porque seu pai após chegar da feira não trazia as comidinhas
preferidas dela. No domingo de Maria, em sua atualidade, ela também ficava
triste por seu marido não lhe dar atenção que a mesma esperava. O marido de
Maria tinha traços melancólicos e depressivos e por muitas vezes não aceitava
bem a convivência social. Ele continha
em sua constituição psíquica, traços do pai de Maria. Quando ele ia ao
supermercado insistia em não trazer as comidinhas prediletas dela. E isso a
fazia sofrer.
Lá, tinha choro da mãe por não
ser atendida em suas demandas e cá tinha choro pela mesma causa. Lá, tinha o
desprezo porque seu pai era alcoólatra e se distanciava da família, evitando
muita fala com a mesma. E cá, desespero por não receber, também a atenção
desejada, pelo marido que escolheu casar.
O marido não era alcoólatra
como o pai, mas se entrega a solidão individualizada e mórbida se insolando
dele mesmo e do mundo, principalmente de Maria.
O domingo de Maria se tornou sombrio
e permaneceu a mesma coisa por toda sua vida, cheio de sombras. Sombras, que
ela não conseguiu ajustar, em seu tempo vivido. Maria não se sentiu acalentada pelos
responsáveis (pais), enquanto crescia. E seus não tiveram a percepção do tempo
que estava sendo levado pelo vento do sofrimento infantil. No domingo de do seu
tempo atual, a sombra traz medo do desprezo existente em sua cabeça e percebida
pela sua alma.
Ah! Domingo de sua infância,
que não volta mais para concertar a estrutura cognitiva. Ah! E o domingo de
antes da sua morte, também, se perdeu e não haverá mais concertos no futuro.
Um bom caso de estudo para os colegas psicanalistas, psicólogos e outras áreas afins. Quando escrevemos não temos o intenção de fechar o texto, por isso deixo, aqui, abertura para analises, critica e acréscimos, caso, queiram!